"Deus nos promete a vida eterna, mesmo porque, se não fôssemos nós, o que seria dele? Um deus dos hipopótamos, das aranhas, das lagartixas?" (Mario Quintana)



Em 2015 chegamos a um ano sobre uma nova fase da obra do poeta brasileiro Manoel de Barros. É que, depois da vida de qualquer escritor, há outra, que chamaríamos de sobrevida; a feita da eternidade se assim a obra alcançar força suficiente para romper a dimensão palpável do tempo. É bem verdade que nada sabemos de eternidades, nem saberemos nunca porque, nessa vida não viveremos o suficiente e, ainda que vivêssemos ad eternum, também não teríamos a dimensão exata do que seria a eternidade. Estamos diante de uma palavra traiçoeira, labiríntica, que não nos oferece saídas pela via comum da razão. Mas, sabendo que o eterno é esse tempo que se perpetua de um passado distante para o presente, deixemos então de deambulações e pensemos apenas dessa maneira: um dia a mais, é sempre uma peça a mais na extensão desse labirinto sem fim. Pela impossibilidade de determinar o eterno e porque ninguém é versado em saber o futuro não alcançamos acertar quais obras (ou se obras como a do nosso poeta) alcançarão essa dimensão; suspeitamos apenas que, uma poesia assim tão quista como a sua, alçada à superfície do extenso coro de vozes que dão forma à tradição da literatura (e ainda em vida), tenha o vigor para tanto. O resto está inscrito nos desígnios insondáveis do tempo. Fiquemos, então, com outra verdade: essa eternidade não é feita apenas da obra – ela necessita (e muito!) da força dos vivos, os leitores. E é como leitores da poesia de Manoel de Barros que esta edição é agora apresentada. Para a eternidade fica uma pequena peça – inútil, podem pensar uns – mas, se de inutilidades o poeta constrói um universo à parte com a mesma força da forma real, por que não essa pequena peça ser um elemento plurissignificativo nesse eternizamento ou na sobrevida do poeta? 

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