A história da escrita feminina é, antes de tudo, uma narrativa de múltiplos silenciamentos e interdições. Mas também é a história da resiliência frente à adversidade e opressão. Judith Teixeira encampa perfeitamente estas considerações: teve sua obra censurada pelo Estado, não encontrou apoio nos seus contemporâneos e foi relegada a um ostracismo literário e social. Morreu sem saber que sua obra se tornaria, tempos depois, verdadeiro índice das rupturas propostas pelo Modernismo e cartilha essencial acerca da ousadia feminina de retratar o seu desejo. Deveras, a vitória dos artistas incompreendidos por seu momento histórico é ter para si e para sua obra o quinhão de eternidade que não alcança àqueles que a censuram, a obliteraram e a rejeitaram. Eles passaram, Judith ficou. Mas é preciso também ter a consciência de que este processo é adverso e doloroso e que necessita também de uma consciência de reparação história e social. Portanto, nada mais salutar que uma efeméride para encontrar uma singela maneira de lançar luz sobre o passado e construir um caminho mais luminoso para o futuro. É por esse prisma que este número da Revista 7Faces, em louvor a Judith Teixeira, observa, tentando compreender as diversas facetas de sua obra e, em última análise, prestando um devido tributo à poetisa.

Na senda das comemorações dos 100 anos da publicação de Decadência e Castelo de Sombras, publicados em 1923, esse dossiê faz parte de diversas homenagens à autora que se iniciaram com a doação dos seus manuscritos por Cláudia Pazos Alonso à Biblioteca Nacional de Portugal. Nessa altura, realizou-se, a convite da diretora da Biblioteca Nacional, Maria Inês Cordeiro, uma sessão pública para falar de Judith Teixeira, com a presença de Cláudia Alonso e Fabio Mario da Silva. À guisa de divulgação da obra de Judith Teixeira lança-se, também em 2023, três revistas acadêmicas: uma sobre os “100 anos da Literatura de Sodoma”, pela Via Atlântica da USP (org. Fabio Mario da Silva e de Mário César Lugarinho); outra sobre “100 anos de Judith Teixeira”, (org. Fabio Mario da Silva, de Maria Lúcia Dal Farra e de Isa Severino) pela Revista Entheoria; e, por fim, o presente número da Revista 7Faces que dedica um número especial à autora (org. de Fabio Mario da Silva e Jonas Leite).

Os textos reunidos contemplam desde a relação de Judith Teixeira com as artes plásticas (Maria do Carmo Mendes e Fabio Mario da Silva), a herança feminina e o erotismo (Maria Lúcia Dal Farra e Andreia Oliveira), as escolas literárias nas quais a poetisa está inserida (Ana Maria Binet), a temática da alcova como momento de aconchego e erotismo (Elisangela da Rocha Steinmetz) e a polêmica da literatura de Sodoma, bem como a relação de Judith Teixeira com Raul Leal (Nefatalin Gonçalves Neto).

Desse modo, revela-se aqui uma Judith verdadeiramente artista, apreendida na sua plena potência de escritora, em diálogo e em ruptura, de modo a ultrapassar (mas sem esquecer, obviamente) os reveses iniciais de sua trajetória artística. Assim, o leitor poderá encontrar caminhos interpretativos instigantes, coadunados com uma obra que é nada menos do que pulsante, viva, sensual e cheia de cores. Viva Judith Teixeira!

Fabio Mario da Silva
Jonas Leite
Organizadores


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